Por Douglas Belchior
O Estado, os governos, os políticos e a polícia, o que esperar deles? Cumprimento das leis constitucionais? Preocupação com o bem comum? Respeito aos direitos humanos? Ou, ao contrário, o incentivo, a conivência e a prática de crimes? Pois continuam, como há 515 anos, fazendo do povo negro e periférico, alvo de sua violência e covardia, bem como registra abaixo a /PONTE.
Fonte /PONTE, por Claudia Belfort, Luís Adorno e Rafael Bonifácio
“Antes de matar ele, o cara segurou no cangote dele [de Lucas], ele falou para não matar ele e ele matou. Ele pegou ajoelhou, algemado, [disse] não precisa me matar, senhor….”
Dois garotos que jogavam bola com Lucas Custódio, 16 anos, minutos antes de ele ser assassinado por PMs na tarde de quarta-feira, no Grajaú, contradizem a versão dos policiais sobre o crime. João e Hélio (nomes fictícios) disseram que viram quando os policiais dominaram Lucas, que estava desarmado, e que o levaram algemado para o matagal atrás da favela Sucupira, onde foi assassinado com dois tiros pelos PMs. Segundo as testemunhas, Lucas pediu para não ser morto.
“Antes de matar ele, o cara segurou no cangote dele [de Lucas], ele falou para não matar ele e ele matou. Ele pegou ajoelhou, algemado, [disse] não precisa me matar, senhor….”, contaram os garotos. Eles fizeram a denúncia à reportagem da Ponte durante o enterro do jovem, realizado no Cemitério Jardim São Luiz, nesta sexta-feira, 29/05.
Na versão do tenente Flávio Augusto Godoy e do cabo Aparecido Domingues Vieira, ambos do 27o. Batalhão da Polícia Militar (BPM),ao perceber a presença de policiais, Lucas fugiu em direção a um matagal. Lá ele teria atirado contra os policiais, que revidaram, atingindo-o com dois tiros.
O caso aconteceu às 14h25, mas os PMs demoraram 5 horas para comunicar a morte às autoridades da Polícia Civil. A família de Lucas, chegou ao DHPP (Departamento Estadual de Homicídios e Proteção a Pessoa) antes mesmo dos policiais. Segundo, Robson Gomes, irmão de Lucas e pastor da Igreja Universal, os policiais acusaram o adolescente de ter roubado um carro. “Mas Lucas não sabia dirigir”, contou Pastor Robson.
Vídeo
O ouvidor das polícias de São Paulo, Julio Cesar Neves, disse que o fato precisa ser rigorosamente apurado e que vai pedir que o Ministério Público entre no caso.
Se você não sair agora, vou dar um tiro bem na sua barriga, matar você e seu filho
Quatro moradores da Favela Sucupira, onde a PM matou a tiros Lucas Custódio, 16 anos, relatam terem sido ameaçados e espancados por policiais logo após o crime
Moradores da favela Sucupira, no Grajaú, onde Lucas Custódio, 16 anos, negro, morto a tiros por policiais militares, na tarde do dia 27/05, relatam que foram perseguidos, ameaçados e espancados por PMs após o crime. Muitos contam que se trancaram em casa, outros não escaparam. A reportagem da Ponte gravou em vídeo relato de quatro pessoas agredidas, entre elas uma grávida e um menino de 13 anos.